Alvaro Nazareth – Movimento – Unanimidade
Publicado em 19/jul/2017, 10:17
Por Don Oleari
Quarta, 19 de julho de 2017
Millor Fernandes, grande pensador brasileiro – entre muitos outros e variados predicados – afirmou desde sempre que toda unanimidade é burra.
E é.
Se a Natureza fez e desenvolveu a vida rica em diversidade, por que reduzi-la a poucas frações ou, pior ainda, à unicidade?
Exemplo provinciano: havia em Vitória um comerciante próspero (na idéia dele) de nome Wilson Bueno, dono de uma loja de varejo na zona de transição entre o Parque Moscoso e a Vila Rubim, chamada Sapataria Amazonas.
A sapataria, de sapataria, já tinha quase nada e a amazonas, que tinha de tudo um pouco, refletia a megalomania do dono. Que, vaidoso, ainda era o garoto propaganda da casa.
Foto da Vila Rubim por Sagrilo, para a revista Espírito Santo Agora de novembro de 72, é o que diz a legenda. Bem próximo, ficava a Sapataria Amazonas relembrabada pelo jornalista Alvaro Nazareth em sua crônica.
Assim, os negócios iam seguindo.
Acontece que Wilson Bueno era jogador. E jogava em briga de galo, como ganhador. Isso, conta José Carlos Gratz, um dos grandes jogadores ganhadores do Espírito Santo: Wilson Bueno conseguiu certa vez um galo fenomenal nas rinhas, tipo assim o Lulinha, filho do Lula.
O galo ganhava todas, de prima, antes do banho – na briga de galo é assim. Como no box tem o round, nela tem o banho. E o galo ganhava antes do banho, muitas vezes com a morte do oponente.
Aí, começaram a surgir as dificuldades. O galo, de tão bom e matador, já não encontrava mais adversários, resultando em prejuízo porque ninguém mais topava encarar uma parada. O Wilson com aquele fenômeno na mão, sem conseguir mais fazer dinheiro.
Eis que surge a oportunidade. Um torneio internacional em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Um lugar distante, desconhecido, onde certamente a fama do galo talvez não chegara.
Que teria, todavia, a presença de inúmeros galistas brasileiros, conhecedores das façanhas do gladiador que poderiam reconhecê-lo, prejudicando as apostas, ensejando, então, a necessidade de uma precaução para evitar contratempos. E lá foi Wilson Bueno, com um galo diferente.
Começaram as lutas, apareceu um campeão internacional desafiando um sul-americano, silêncio total, ninguém se habilitava e, de repente, Wilson Bueno se apresentou. Foi uma surpresa pois ele não estava com o matador. Afinal, era um galo desconhecido, nada a ver com aquele que matava antes do banho.
Feitos os preparativos, as apostas pipocando, a luta começou e estouraram os lances de que a luta não ia ao banho, todas contra o galo do Wilson, o diferente, e ele topando todas. Era o sonho, ele pensando para ele, o galo matava antes do banho, questão de pouco tempo.
Porém, o outro galo era bom demais e chegaram ao banho. E durante o banho, a água do galo do Wilson começou a aparecer suja, foi sujando, sujando … até o Wilson pegar o galo rapidamente, enfiar em baixo do braço, sair em desabalada carreira e desaparecer.
Para conseguir apostas, tinha pintado o galo com uma tinta americana de última geração, confiante que ele, sem ser reconhecido, mataria a briga antes do banho. Só que, com um adversário à altura, foi ao banho e com a água do banho … sujou.
Economista, Jornalista e Publicitário. Trabalhou no jornal O Diário, Rádio Espírito Santo, Revista Agora, Jornal da Cidade, A Gazeta e A Tribuna. Fundou a Uniarte Agência de Propaganda e dirigiu comercialmente a Eldorado Publicidade, a Rede Tribuna e o jornal eletrônico Século Diário. Foi Secretário de Comunicação da Prefeitura de Vila Velha e do Governo do Espírito Santo.
Comentários