As Certinhas do Oleari + Poesia Erótica: por Rodrigo Mello Rego: – Cosmocópula, de Natália Correia
Publicado em 07/ago/2018, 08:16
Por Don Oleari
Em Óbidos, passei pelo Portal da Vila. A Rua Direita, por onde passeei demoradamente, é a principal rua da cidade, do século XIV, liga Portal da Vila à Vila dos Alcaides.
Senhor editor chefe do Portal Do Oleari
Com meu pedido de escusas pela minha ausência prolongada, justifico-me dizendo-lhe, e aos eventuais leitores desta modesta coluna, que me ausentei do País numa missão em Portugal, recolhendo subsídios para um trabalho a mim proposto por uma entidade brasileira.
Foi em Óbidos, fascinante cidade medieval próxima de Lisboa, em um sábado-domingo, que um dos meus hospedeiros, sabedor de meus levantamentos sobre erotismo na poesia, sobretudo de autores brasileiros.
Chamou minha atenção para as singulares criações de Lúcia Nogueira, Natália Correia e Antônio Boto, poetas de uma nova geração de intelectuais portugueses voltados para o tema.
Seu maior entusiasmo recaiu sobre a poeta Natalia Correia, deputada, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista e editora, detentora do Prêmio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores.
Natália Correia nasceu em Fajã de Baixo (ao alto à direita, no mapa), Ponta Delgada, no Arquipélago dos Açores.
Mas viveu desde a juventude em Lisboa, onde ganhou renome como intelectual e como membro de oposição à ditadura implantada no País.
Política, eleita deputada, foi processada e condenada a três anos de prisão, mas não pela oposição ao regime, e sim pela publicação da “Antologia da Poesia Erótica e Satírica”, considerada pelas autoridades ofensiva aos costumes.
Selecionei seu poema “Cosmocopula”, uma mostra de sua arte de versejar e confirmação da tese de que, em outras partes do mundo civilizado, autores tratam do erotismo com engenho e arte…
Já de volta ao Brasil, Rodrigo de Mello Rêgo.
Cosmocópula
Natália Correia
I
Membro a pino
dia é macho
submarino
é entre coxas
teu mergulho
vício de ostras
II
O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso da água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro.
rodrigo mello rego
é professor, pesquisador
de literatura erótica
Comentários