Rubens Pontes: Meu Poema de sábado – Chão de Estrelas, de Silvio Caldas e Orestes Barbosa
Publicado em 13/set/2019, 19:17
Por Don Oleari
No final da coluna, Silvio Caldas conta como surgiu a clássica canção.
A coluna de hoje tem uma direção especial:
Sem pretender mostrar erudição, é necessário voltar a 1618, com a publicação do livro “Harmonice mundi” de Johannes Kepler, o astrônomo que ressuscitou a ideia pitagórica da harmonia do Universo, uma manifestação direta da mente divina.
A chave para entender a harmonia das órbitas elípticas planetárias levou Kepler a associar a sua velocidade aos números obtidos nas escalas musicais: Saturno corresponde a uma terça menor, Marte a uma quinta, etc.
O astrônomo finalmente desvelou a estrutura da música celestial ouvida por Pitágoras mais de dois mil anos antes dele.
Os Planetas cantavam juntos, um moteto celebrando a ordem divina. A invenção da música polifônica era uma tentativa dos homens de se aproximarem de Deus.
O físico e escritor brasileiro contemporâneo Marcelo Gleiser escreveu em “A dança do Universo” (Editora Companhia de Bolso) que “o poder sedutor da música celeste, com sua beleza ao mesmo tempo divina e intangível, inspirou vários poetas do Século XVII.
Tanto em Shakespeare como em Milton, podemos sentir a frustração causada por não podermos ouvir a música divina.”
É verdade.
Em “O Mercador de Veneza” o dramaturgo inglês confirma:
– “Como dorme docemente o luar nesse canteiro.
Vamos assentarmos aqui e deixemos os acordes da música
Deslizarem em nossos ouvidos. A calma, o silêncio e a noite
Convidam aos assentos de suaves harmonias…”
Em “O Hino”, poema de Milton:
Ressoem esferas de cristal,
Abençoem ao menos uma vez nossos ouvidos humanos
(se assim vocês puderem assim tocar nossos sentidos)
Permitam que seu badalar prateado
Flua em melodias temporais;
E, ao soar o órgão celestial,
Façam suas harmonias em nove níveis
Acompanhar a sinfonia dos anjos”.
Os grandes coros das Igrejas medievais se repetem através dos tempos, e mesmo aqui, entre nós,
ouvimos, por exemplo, os “Meninos Cantores de Petrópolis” harmonicamente tocando nossa
sensibilidade e nos fazendo, com a sonoridade de sua voz, nos aproximar do Criador.
A música popular brasileira se multiplica em exemplos. Centenas de composições nos fazem ter essa
visão do infinito e sua inspiração criadora transcende e vai muito além de sete notas musicais.
A Rádio Clube da Boa Música assumiu a missão de nos levar além do nosso horizonte, abrindo
espaços para sentirmos a instigante revelação de astrônomos, pioneiros e universalmente
admirados, de terem sido as notas musicais o mecanismo divino aplicado para a formação
harmônica do Universo.
Assim, a coluna deste sábado não foge à luta. A fonte, ainda desta vez, é a Rádio Clube da Boa Música.
A letra é um poema, a composição musical um toque rompendo cúmulos e nimbos para chegar até nós.
Silvio Caldas canta Chão de Estrelas.
Rubens Pontes
Capim Branco, MG
Chão de Estrelas
Silvio Caldas e Orestes Barbosa
Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam um estranho festival
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional
A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas nos astros, distraída
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão
linki livro rubens pontes
– Passos, saltos & queda – Linki pra ler Passos, Saltos & Quedas, de Rubens Pontes.
http://online.anyflip.com/mitk/xjqj/mobile/index.html?fbclid=IwAR39mt-wlzHGKBAeTSG7cZOD4etEr38ocVyHkE-rPKkwvhpfI8qfvf7khLE#p=10
Comentários