Os rios da vida de Rubens Pontes
– Ouvi Paulinho da Viola e seus versos balançaram meu coração:
“Foi um rio que passou em minha vida…”
– Pois, percuciente Oleari, vivi alguns dos bons momentos do passado nas barrancas de rios como o velho Chico, o sereno Paraopeba, o imponente Araguaia, o sofrido Rio Doce, que banha sem esperança sua tão cantada Colatina.
Presto a todos os rios do Mundo minha homenagem neste sábado povoado de interrogações políticas, com dois poemas de dois notáveis poetas: Fernando Pessoa e Carlos Nejar.
Ex-totto-corde,
Rubens”.
De Carlos Nejar
NOSSA SABEDORIA É A DOS RIOS
Nossa sabedoria é a dos rios.
Não temos outra.
Persistir, ir com os rios,
onda a onda.
Os peixes cruzarão nossos rostos vazios.
Intactos passaremos sob a correnteza
feita por nós e o nosso desespero.
Passaremos límpidos.
E nos moveremos
rio dentro do rio
corpo dentro do corpo,
como antigos veleiros.
De Fernando Pessoa
ENTRE O SONO E O SONH0
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, já passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre –
Esse rio sem fim.
Rubens Pontes
é jornalista
